24 de setembro de 2012

[Fabio Mesquita] A Arte do Carpinteiro


O OFÍCIO DA ESTÉTICA, DA FUNCIONALIDADE DA PROPOSTA DA BELEZA, ONDE A HARMONIA DO TALENTO CASA COM O CÁLCULO PARA O RESULTADO.


Foto: Fabio Mesquita (Grão novo)
É interessante quando Musashi, grande Samurai Japonês, da era em que os samurais eram uma espécie de cavaleiros medievais para o Japão, escreveu em seu livro: O Livro dos Cinco Anéis, uma feliz comparação entre a arte militar e a arte do carpinteiro.  Musashi diz: “Se tem pleno domínio das técnicas e primam pela excelência em seu ofício, executando com exatidão as medidas, tornar-se-ão posteriormente mestres-carpinteiros.”

         Para Musashi, assim ele conceitua, que carpinteiro, em sua cultura “daiku”, significar “O Grande planejador”. É bem curioso a simplicidade dessa arte diante da grandiosidade desse conceito. Que nos provoca uma bela reflexão sobre a primazia da exatidão com que se exerce um ofício.

         O fato é  que o texto remeteu- me a pessoa de Cristo. Quando Deus escolhe a mulher, a qual irá dar a luz ao seu filho, ele escolhe, justamente, uma mulher cujo destino está traçado para viver com um carpinteiro. Cristo, que nasce como fruto de um ato divino, provocado pelo Espírito Santo. Nasce dentro de uma casa onde o ofício é a carpintaria. Que curioso tal fato. Para mim, casa a grandiosidade da sua missão com a essência desse conceito traduzido por Musashi.

         Vejo que há muita relação. Há uma ligação direta entre a pessoa do Cristo e a arte da Carpintaria. Este homem, que  nasceu para impactar uma geração,  veio com a proposta de libertar um povo no campo das ideias, no campo do raciocínio e da compreensão do conceito de Deus, por maio de suas propostas, sua vida, suas lições e principalmente da aproximação dos homens com o ser divino.

         Cristo foi um expert da arte do planejamento. Um homem que surge em uma era cheia de grandes limitações técnicas em comunicação, em infra-estrutura e em mobilidade acaba se valendo de todos os recursos cabíveis de sua era para trasformar um deserto em um verdadeiro manancial de explosões provocativas para a cultura de sua época.

         Por ser um estrategista, nada impediu Cristo de realizar sua missão. Por conhecer seu cenário, conhecer os mecanismos e saber do impacto de cada ação, Cristo vai a frente, construindo sua mensagem de forma inovadora, surpreendente e se valendo dos canais de comunicação de massa que a sua era possuía.

         Quem planeja não encontra limites. Quem planeja encontra a transformação das dificuldades em oportunidades para a realização de seus objetivos. O interessante dessa ideia é a base da carpintaria. A importância dele ter passado por lá. Deus, sumo conhecedor de tudo, e, sabendo da grande missão que Cristo haveria de encarar,  levou- o de forma propositada para ser filho de um carpinteiro. Lá, Cristo pode exercer a ideia do plano criativo. Ver uma peça de madeira como uma cadeira, mesa, banco ou algo parecido, antes mesmo da peça nascer. Isso é o espírito estratégico. Ter a oportunidade de visualizar o objetivo desejado, concretizado, mesmo ainda nos primeiros pontos pré-estabelecidos. Nada foi atingido, mas o estrategista já vê o resultado alcançado.

         Na carpintaria, há a necessidade direta do cálculo matemático. Para que o objeto que ainda vive no plano da ideia ganhe forma, função e existência, a matemática precisa entrar em campo para que cada encaixe ganhe as devidas e corretas formas, para que cada detalhe se aplume de forma harmônica e perfeita, para que o objeto desejado assuma a sua função no mundo.

         Na carpintaria, aprende- se a respeitar o tempo. Para cada projeto, cada meta, cada trabalho, há um tempo que se vale e se faz necessário para que o que mora do campo das ideias ganhe formato. O tempo é o senhor da perfeição.

         Para cada ponto do projeto, há o custo necessário para  a sua realização. Quando se sonha e quando se tem alvo para ser atingido, o custo do investimento deverá ser calculado para que não haja interrupções desnecessárias e que o projeto não perca a sua essência.

         É na carpintaria que se busca o belo. A beleza ganha função na vida das pessoas. A cadeira, a mesa, o móvel central, tudo tem uma função prática e uma beleza exclusiva que a torna única, intrasferível, pessoal e que dá mobilidade a vida. Torna a vida simples. O belo faz da vida um mecanismo mais simplicado para ser seguida.

         É na carpintaria que encontramos a proposta da estética aliada a uma função prática funcional e a necessidade do cálculo para a construção e trazer ao tangível o objeto imaginado.

         É na carpintaria que o carpinteiro conhece sua limitações técnincas. É lá onde ele trabalha sua arte, conhece até onde pode ir e trabalha para se aperfeiçoar e, com isso, busca o pleno desenvolvimento e se torna um carpinteiro-mestre.

         Segundo Sun Tzu, em seu Livro a Arte da Guerra, “O General que perde a batalha faz apenas poucos Cálculos de antemão.  Assim, muitos cálculos levam à vitória e poucos cálculos, à derrota.” Ou seja: O cálculo está em relação direta com o belo, com a vitória e com a paz.

         Trocando em míudos: nós, os estrategistas de hoje, temos de cumprir nossa missão com o mesmo rigor do carpinteiro, conhendo bem nossos limites e aperfeiçoando-nos sempre para transcedermos as nossas limitações, com humildade, sabedoria e análise, conhecendo bem o cenário e transformando dificuldades em oportunidades.


Fábio Mesquita Torres | Publicitário da Grão Novo

Nenhum comentário: